Entramos no ciclo econômico das ondas inflacionárias. O que é isto?
Primeiro você precisa entender que lá pelo meio de 2019 os bancos americanos estavam sem reservas de liquidez. Existem convenções internacionais (Acordo de Basileia) e normas internas nos países (regra de depósito compulsório ou reserva fracionária) que determinam quanto de dinheiro um banco precisa ter em caixa no final de um expediente proporcional ao total de dinheiro que ele emprestou no mercado.
Os bancos podem “gerar dinheiro”. Quando eles fazem um empréstimo para alguém, basicamente o fazem por meio de um registro contábil e eles podem ter, por exemplo, 10 vezes mais dinheiro emprestado do que o total que foi depositado.
Só que ele precisa seguir as normas de liquidez. Se ele não conseguir seguir essas normas, ele quebra. Geralmente o Banco Central local inicia um processo de intervenção e liquidação das obrigações deste banco. Lá nos EUA, um banco pode se salvar dessa intervenção de duas maneiras:
1 – pegar empréstimo com outro banco;
2 – pegar empréstimo com o FED (Federal Reserve Bank).
Esse empréstimo tem uma característica especial, geralmente ele é de curtíssimo prazo. De uma noite para outra ou uma semana. Só que, se existem muitos bancos em dificuldade, eles não conseguem emprestar dinheiro entre si. Resta o socorro do FED para todos.
Para fazer isso, o FED aumenta o seu balanço, o que a turma chama de afrouxamento quantitativo, ou Quantitative Easing ou, simplesmente, QE. A maioria das pessoas, mesmo alguns bem-conceituados, se equivocam ao dizer que QE é impressão de dinheiro pura e simples.
O QE é uma operação complexa e, como o objetivo deste artigo não é estudar o tema, vou dar um exemplo simples (quase simplório) para ilustrar:
- D+0 – Banco tem 1 de reserva e pode emprestar 10;
- D+1 – Banco emprestou os 10 e tem um título deste empréstimo;
- D+2 – Banco ainda não recebeu o pagamento; Ele precisa de 1 de liquidez para não quebrar e pede socorro ao FED;
- O FED, via QE, pega o título do Banco e empresta 1. Aqui é importante deixar claro que além de colocar 1 no balanço do Banco, o FED retirou o empréstimo de lá. Ou seja, o Banco está com o balanço limpo e com a capacidade de voltar a emprestar;
- D+3 – Banco recebe 2 de outra operação e desfaz o negócio com o FED pagando 0,1 (juros quase zero no mundo);
- Agora o banco pode emprestar 19 e ainda tem 10 para receber. O ciclo se repete…
Em 2019 a coisa estava tão feia, que mesmo com esse malabarismo contábil, os bancos estavam próximos de um crash generalizado, capaz de mudar para sempre a economia como a conhecemos.
Mas aconteceu um evento que salvou o sistema financeiro da nossa era. Sabe o que foi? Sim, o COVID – o maior caso de resgate a bancos da história.
Mas porque ele precisava do COVID para poder fazer isso?
Quando as operações de resgate a banco começaram a aumentar em 2019, os americanos começaram a se lembrar do resgate de bancos feito em 2008: depois de se afogarem na própria ganância e iniciarem uma crise financeira terrível, o governo salvou os bancos e esses bancos pagaram largos bônus para os seus executivos, enquanto parte da população ficou sem onde morar. Essa “memória afetiva” num contexto político altamente polarizado poderia resultar em confusão, então o FED não queria agir às claras como era necessário
O COVID foi a desculpa perfeita para o FED realizar o maior QE da história da humanidade até a data de publicação deste texto. Só que as coisas não se limitaram a uma injeção de crédito gigantesca: o governo americano distribuiu cheques de dinheiro durante meses para a população. Tudo isso num cenário de juros baixos.
Eis a receita perfeita do caos monetário. Expansão da base monetária e da base de crédito.
O que isso faz com a Economia?
Faz as pessoas comuns consumirem demais, em um momento em que as cadeias produtivas estavam estranguladas pelo covid. E faz os mercados tomarem muito risco, pois o dinheiro está barato.
E o feito:
Alto consumo e pouca oferta? Preços sobem. Investimento fácil? Precos sobem.
Esse é o processo inflacionário – o aumento da base monetária, que gera aumento de preços e destruição de riqueza.
E porque estou chamando de ciclo econômico das ondas inflacionárias?
A única forma que os Estados têm de conter a inflação, sem gerar consequências piores, é subindo os juros. Crédito mais caro (via aumento de juros) usualmente diminui os vários processos de troca que ocorrem na economia, freando a inflação.
Só que as empresas se beneficiaram dos tempos de dinheiro fácil e engordaram seus caixas. Elas não precisam de crédito e tendem a investir seus caixas de maneira segura em um cenário de juros em alta; o que pode estagnar as economias e fazer com que a inflação perca força.
Mas o problema é o seguinte: todo aquele dinheiro gerado continua por lá e quando ele voltar a circular…a inflação volta.
O que eu acho que vai acontecer e que dei o nome de ciclo das ondas inflacionárias:
Vamos conviver nos próximos 8 a 12 anos com taxas de juros e inflações mais altas. Mesmo assim, o ganho real (rendimento – inflação) vai ser mais difícil – o que tende a gerar um processo de má distribuição de renda, especialmente para a base da pirâmide.
Isso sem contar nenhum evento outlier, como a Guerra da Ucrânia.
Este é um processo de filtragem e corte dos excessos e será essencial para a retomada de um crescimento baseado na eficiência no futuro. Mas é necessário preparar seu portfólio de investimentos para esse período e assim evitar que você faça parte do grupo das pessoas que terão riquezas destruídas. Você está preparado(a)?
Theo Lamounier,
advogado, cofundador e diretor do byebnk
https://www.linkedin.com/in/carlostheofilolamounier/
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