Pense que vivemos em um mundo de recursos finitos. Nada se cria. Tudo o que consumimos acontece a partir da transformação de elementos presentes na Terra. O leitor desavisado pode contra-argumentar mentalmente afirmando que nós somos capazes de cultivar alimentos através da reprodução ilimitada de sementes. Sim, mas a agricultura demanda um espaço de terra com nutrientes, condições climáticas e outros tantos fatores. Todos eles intransponíveis pela barreira da escassez.
A maior parte dos conflitos humanos advém dessa mesma fonte. Sejam conflitos menores que se resolvem pelo maior poder aquisitivo, como, por exemplo, quem será o dono do melhor apartamento com vista para a Torre Eiffel. Ou conflitos maiores, como a quem pertence a sagrada cidade de Jerusalém?
Até onde alcança o limite da imaginação humana e nossa capacidade de inovar, sempre esbarraremos no problema da escassez. A mais relevante, aquela que ninguém pode escapar, é a do nosso tempo na Terra. Nosso corpo é uma máquina cujo funcionamento está fadado ao arrebatamento. E o pior: não temos qualquer controle sobre o quão limitado ele é.
O fim da escassez
Como uma luz de esperança, a digitalização e a tecnologia estão contribuindo para o fim da escassez em diversos aspectos da vida humana (e quem sabe, um dia, para própria vida em si).
Se antigamente era preciso pagar caro em um LP ou escutar rádio o dia inteiro para ouvir sua música favorita, hoje basta baixar o Spotify. Mais do que universalizar as músicas boas (e as ruins), o Spotify contribuiu para a redução da pirataria e inovou: retirou dezenas de intermediários da cadeia de distribuição de conteúdo.
Um luxuoso apartamento próximo ao Central Park também pode ser temporariamente alugado pelo Sirbnb e você não precisa mais disputar o aluguel do seu filme favorito na locadora do bairro ou esperar semanas para saber se as fotografias que você tirou ficaram boas.
A lógica da inovação está diretamente ligada à melhoria das nossas condições de vida. Inovar significa tornar menos escasso, retirar intermediários e ampliar o acesso. A inovação pode acontecer acompanhada destes três fatores, ou por apenas um deles, mas deve ser sempre guiada à evolução do individuo ou da humanidade – pelo menos é por isso que eu advogo.
A capacidade de replicação de um byte tende ao infinito. Um simples arquivo de texto, como este em que escrevo, pode ser replicado incontáveis vezes para cada e-mail em que ele é enviado como anexo.
O vilão da digitalização do dinheiro
Esse fato, que é uma solução para o problema das músicas em LPs, torna-se o vilão da digitalização do dinheiro. Se os recursos da Terra e o próprio tempo humano são escassos, o meio utilizado para sua troca, reserva de valor e contabilidade também precisa ser.
O problema da digitalização do dinheiro (chamado de problema do gasto duplo) foi objeto de estudo dos cientistas da computação por anos e a solução mais famosa ganhou o nome de Bitcoin. Com a criação da primeira criptomoeda e da chamada blockchain, replicou-se a escassez de recursos no mundo digital.
Entretanto, as características da primeira blockchain não eram suficientes para a inovação. Embora escasso, o Bitcoin é fungível. Um bitcoin é um bitcoin em qualquer lugar do mundo e em qualquer situação. O mesmo não se pode dizer de alguns metros quadrados no Chelsea em Londres ou da Monalisa pintada por Da Vinci.
A infungibilidade dos itens é capaz de torná-los objetos de desejo e disputa no mundo real. O desejo humano, manifestação da nossa irracionalidade, pode ser saciado ao se apreciar um quadro de Van Gogh (supostamente) original. De outro turno, o desprazer da falsificação é capaz de gerar asco.
Os tokens não fungíveis, mais conhecidos pelo acrônimo NFT, vêm ocupando um espaço cada vez maior na mídia. Não por terem trazido qualquer evolução, mas pelos elevados preços pagos por item sem qualquer sentido, ainda naqueles de maior profundeza onírica.
O capitalismo e a tecnologia melhoraram as condições de vida em toda face do planeta Terra. O número de pessoas em condições de pobreza nunca foi tão pequeno, IDHs estão em ascensão, vivemos numa era de (relativa) paz e a expectativa de vida tem subido. Não há problema no crescimento da desigualde, como alguns defendem, contanto que a humanidade continue a prosperar. O verdadeiro problema é que o desperdício de recursos (escassos, lembra?) com idiotices, deixa a revelia milhões de pessoas que poderiam estar sendo ajudadas com investimentos na verdadeira inovação – que também é lucrativa.
Os baby boomers e a geração X estão se amotoando na Giving Pledge Foundation pensando em como alocar recursos para o bem do próximo. O mesmo não se pode dizer das gerações seguintes, seduzidas por um macaco entediado.
1 fundação criada por Warren Buffet e pelo casal Gates para que milionários e bilionários destinem seus recursos para causas sociais.
Theo Lamounier,
Cofundador e Diretor da byebnk
https://www.linkedin.com/in/carlostheofilolamounier/
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