Muita coisa acabou sendo acelerada com a pandemia, principalmente quando falamos dos comportamentos de mercado e de consumo das pessoas.
Um dos temas que acabou ganhando destaque foi o ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). Este tema está na pauta da maioria das grandes empresas e o impacto dele, se realmente aplicado com seriedade por elas, pode acabar inclusive mudando os próprios modelos de negócios.
Por isso que acabou ganhando força também um tema que não é necessariamente novo, mas que parece estar alinhado agora com este pensamento mais sustentável e que impacta também os comportamentos de consumo, que é o conceito de serviço contrapondo ao modelo de propriedade.
Ou seja, ao invés de ter algum bem ou produto, você passa a utilizá-lo no modelo de serviço ou aluguel. É o que chamamos de Life as a Service.
A procura de um modelo de consumo mais sustentável
Não posso dizer que já fico totalmente confortável com esta ideia, mas não dá para deixar de concordar que estamos seguindo rapidamente por este caminho. Mas qual será o limite aceitável? O que poderemos consumir em um formato diferente de como fazemos hoje e que seja sustentável não apenas para o meio ambiente, mas também para a economia?
Sabemos que negócios como Airbnb e UBER já consolidaram alguns comportamentos neste sentido, mesmo que estas próprias empresas estejam enfrentando seus desafios.
E vemos agora o crescimento de outros formatos de negócios dentro da mesma ideia, por exemplo, com as montadoras de veículos começando a investir fortemente no aluguel de carros ao invés da venda tradicional. Um dado da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), mostrou que em 2021 8% do mercado já utilizava carro por assinatura.
Se pesquisarmos um pouco mais, vamos encontrar vários outros serviços que seguem na linha da mudança de um modelo anterior de propriedade, como a assinatura de filtros de água, móveis residenciais e corporativos, aluguel de bicicletas nos parques de São Paulo e até de furadeiras e eletrodomésticos.
A convivência de dois modelos
Mas não acredito que este conceito substituirá totalmente o conceito de propriedade, não apenas porque é óbvio que ele não funcionaria tão bem para bens de menor valor agregado ou produtos de uso pessoal, mas também porque a venda de um produto também é necessária até por uma questão de equilíbrio de preço (demanda e oferta) ou mesmo para justificar investimentos para a própria evolução destes produtos.
Por exemplo, para o Airbnb funcionar segundo o seu propósito, é necessário que existam os vários proprietários dos imóveis e não apenas quem quer alugar. Ele não será sustentável se não for neste modelo, aliás. E o Uber ou o que virar isso no futuro, poderá realmente afetar de alguma forma o volume de carros vendidos, mas confesso que tenho minhas dúvidas se realmente as futuras gerações não irão querer ser donos de carros (ou o que eles virarem) como vêm sendo pregado.
Acredito também que o desejo de propriedade é natural do ser humano, por isso, em alguns sistemas políticos ela é proibida (não precisaria proibir se assim não fosse, certo?).
Na minha opinião, o conceito de Life as a Service é muito bom e vai funcionar muito bem para alguns segmentos de mercado, como já estamos vendo, mas exatamente porque existirá também o conceito de Propriedade e um alimentará o outro.
Mas isso, só o futuro vai dizer e parece que ele está chegando cada vez mais rápido.
Márcio Oliveira,
Sócio da Quid Si Pensamento Criativo
https://www.linkedin.com/in/marciooliveira71/
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